04/01/2013 - 05/01/2013 - OpinaMundos
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Para sociólogo, só educação mudará cultura da violência

O assassinato do estudante universitário Victor Hugo Deppman pelas mãos de um menor de idade, na última terça feira em São Paulo, levantou novamente o debate sobre a maioridade penal no país e o comércio de armas. Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgado na semana passada, mostra que a compra de armas pela população caiu cerca de 40% após o Estatuto do Desarmamento, de 2003. Outro levantamento, divulgado no começo do ano, o Mapa da Violência 2013, enfoca justamente a violência armada no país. Mostra, entretanto, que a taxa de homicídios por armas de fogo se manteve constante na última década após a entrada em vigor do mesmo Estatuto.

Segundo o coordenador do Mapa da Violência, o sociólogo Júlio Jacobo Waiselfisz, a grande redução na compra de novas armas de fogo não significa que o número de armas em circulação no país tenha diminuído na mesma grandeza. Sem campanhas eficazes de desarmamento da população, que se tornaram raras, esse estoque de armas continuará fazendo vítimas como o estudante de Rádio e TV.




ÉPOCA – O Ipea divulgou recentemente que o número de compra de armas por família caiu 40% após o estatuto entre 2003 e 2009. Entretanto, o Mapa da Violência deste ano mostra que o número de homicídios por armas de fogo se manteve constante desde 2003. O que aconteceu?

Júlio Jacobo Waiselfisz – O Ipea não afirma que o número de armas em mãos da população caiu, mas sim a venda de armas de fogo. O Estatuto do Desarmamento tornou mais rígido do que era, mas o plebiscito que eliminava a venda foi derrotado. Uma pesquisa feita em 2005 estima que tínhamos um estoque de 15,2 milhões de armas de fogo em mãos privadas, sendo que 8,5 milhões delas ilegais. É possível que, com as regras mais rígidas impostas pelo estatuto, o estoque de armas de fogo em mãos dos civis tenha parado de crescer. Tiveram as campanhas de desarmamento, mas nada indica que esse estoque caiu consideravelmente, apenas que desde então caiu a velocidade com que ele aumentava.


O sociólogo Júlio Jacobo Waiselfisz (Foto: Divulgação)

ÉPOCA – Menos armas em mãos da população produziram menos mortes, então?

Waiselfisz – Até o momento, a discussão parece muito um pitacômetro: de um lado, gente que defende o direito de se portar armas de fogo como forma de se proteger; e outra corrente dizendo que as armas de fogo favorecem que situações de conflito possam acabar em tragédia. Fizemos os cálculos: entre 1999 a 2003, ano da aprovação Estatuto, o número de mortes por armas de fogo no Brasil cresceu em média 6% ao ano. Em 2004, com aquelas campanhas e tudo mais, houve uma queda de quase 12%. Depois, esse número voltou a crescer e se estacionou na casa dos 39 mil.


ÉPOCA – O país é o 9º do mundo em taxas de homicídio por 100 mil habitantes.

Waiselfisz – Realmente, as estatísticas estacionaram na casa dos 39 mil mortos por ano, um número que se mantém constante e ainda é muito alto. O problema, como explicitamos no trabalho, é que precisamos enxergar mais o contexto em que essas armas de fogo são usadas. Existem outros fatores que concorrem para esse alto número de homicídios por arma de fogo que temos no país.

ÉPOCA – Quais são eles?

Waiselfisz – Em novembro de 2012, o Conselho Nacional do Ministério Público iniciou a campanha “Conte até dez”. Essa campanha é resultado de uma pesquisa em dezesseis Estados, onde foi mostrado que grande parte dessas mortes não é relacionada a crimes profissionais, ou seja, crimes relacionados com tráfico de drogas ou acerto de contas, mas sim cometidos por impulso e outros motivos fúteis, ciúmes, vingança pessoal, brigas domésticas e outras situações cotidianas. Em alguns Estados, esses crimes são ampla maioria. Isso mostra que o Brasil, assim como o resto da América Latina, é vítima de uma cultura da violência, que pensa que pode resolver conflitos exterminando o próximo. Esses crimes que se ‘aproveitam’ do enorme estoque de armas circulando pelo país e da facilidade em comprá-las.

Um outro elemento é a alta sensação de impunidade relacionada a homicídios. No ano passado, o Conselho Nacional do Ministério público divulgou os resultados de uma força-realizada para limpar o estoque de investigações de homicídios até o ano de 2007. Dos 134 mil inquéritos analizados, apenas 6% resultaram em uma denúncia.

ÉPOCA – A campanha pelo desarmamento não foi suficiente, então?

Waiselfisz – Foi necessária, colaborou para estabilizar uma espiral de violência. Mas não foi suficiente. Primeiro porque, depois de 2004, o tema sumiu do debate nacional. As campanhas posteriores de desarmamento foram muito menores, atraíram muito menos atenção. Segundo, porque o país ainda não tem um plano de combate à violência em escala nacional. O que se viu, desde o Plano Nacional de Segurança e o Fundo Nacional de Segurança Pública no começo dos anos 2000, foram convênios pontuais com Estados onde a violência aumenta esporadicamente. Faltam políticas de abrangência nacional, uma cobrança sistemática de números sobre o tema, o número de armas apreendidas a cada ano. Enquanto o governo federal faz um convênio com este ou aquele Estado, a criminalidade no Brasil age nacionalmente.


ÉPOCA – O Mapa da Violência mostra que algumas regiões conseguiram controlar os índices de homicídios. Em outras, esse número explodiu.

Waiselfisz – Sim. A violência, que antes estava concentrada em algumas microrregiões do país, agora está bastante disseminada. O primeiro fator que corroborou para isso é a desconcentração do desenvolvimento econômico, que saiu de poucas capitais para o interior dos Estados e também para Estados que estavam marginais. Essa concentração de fluxos de capitais e atração migratória também ajudava a concentrar geograficamente os índices de violência. Segundo, a partir da virada do século, os Estados mais acostumados a lidar com essa violência começaram a trabalhar para diminuir esses índices, contratar e treinar sua polícia, equipá-la melhor, trabalhar por eficiência. Com mais repressão, a bandidagem voltou suas atenções para aquelas áreas que começavam a prosperar, mas cujo aparato policial ainda era ineficiente, sem condições de enfrentamento. A lógica da criminalidade é como a de uma epidemia, se barra em um lugar ela procura outro mais fácil.

ÉPOCA – O que precisa ser feito?

Waiselfisz – Temos que continuar a campanha, diminuir esse enorme número de armas em circulação no país, dificultar o contrabando. Mas também é preciso combater essa cultura da violência. Existem pesquisas que mostram um incremento enorme de homicídios na residência da vítima, ou seja, são crimes cometidos em situações cotidianas. Não dá para colocar um policial em cada esquina, em cada boteco, em cada casa. Temos que combater esse hábito, e isso se faz principalmente com educação.
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Politicamente Correto: Que onda é essa?



A moda do politicamente correto nasceu nos Estados Unidos, país que vive sob o estigma do preconceito desde o nascimento. A ideia era justamente a de combater a discriminação supostamente implícita em denominações como ''negro'' ou ''gordo''. Mas o que era apenas uma sadia reação ao preconceito acabou por transformar-se em algo igualmente racista, e em determinados momentos até caricatural.

A onda do politicamente correto, que entrou forte no Brasil em meados dos anos 1990, já quase não permite mais que qualquer pessoa se refira a alguém que está acima do peso como ''gordo''. Por sinal, a situação inclusive criou um empecilho linguístico: fica difícil se referir a quem não é gordo, ou a alguém que não tem uma deficiência, por exemplo, sem ser preconceituoso: ''Várias vezes conversei com pessoas que se referiam corretamente a mim como uma pessoa com deficiência. Mas quando elas iriam falar a respeito de alguém que não tem um problema, diziam que aquela pessoa era 'normal'. Ora, eu não sou normal?'', pergunta a presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Martinha Clarete Dutra, que é cega.

''As expressões politicamente corretas não passam de um mero desvio de linguagem'', explica o livre-docente em Letras pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), Joaquim Carvalho da Silva. ''Um eufemismo, uma tentativa de abrandar expressões que aparentemente são muito duras'', completa. O hábito, ainda segundo o professor, é mais comum em países de grande miscigenação. O combate à discriminação contra negros, por exemplo, foi um dos precursores da onda do politicamente correto nos Estados Unidos, justamente para se evitar o uso da palavra ''negro'' como ofensa. ''Analisados a fundo, chamar uma pessoa de negra ou afro-descendente é somente uma questão de convenção'', afirma o professor. ''É, também, uma questão de costumes. Quem visita a Europa, por exemplo, acha que o povo de lá é mal-educado justamente pelo fato de que eles não rodeiam para falar o que pensam. Por outro lado, o brasileiro tem o hábito de não gostar de ouvir as coisas como elas realmente são'', continua.

Em caso semelhante encaixam-se as referências usadas para os idosos. ''Velho'' é uma palavra quase abominada pela turma do politicamente correto. ''Idoso'' ou ''pessoa de terceira idade'' soa melhor, segundo eles. ''O politicamente correto esquece, no entanto, de delimitar as idades restantes. Quem é da primeira ou da segunda idade? E, por fim, qual a diferença entre velho e idoso?'', questiona Silva. O abuso do uso indiscriminado desta “nova onda”, inflamada por patrulheiros de plantão, onde quase tudo é “bullying” ou homofobia, chegou até mesmo em cantigas infantis: Há algumas décadas, "Atirei o Pau no Gato" figurava entre as músicas preferidas das crianças. Mas os tempos mudaram e a consciência em relação à violência expressada pela canção acabou exigindo uma nova letra: "não atirei o pau no gato, porque isso não se faz. O gatinho é bonzinho e devemos proteger os animais".

Para a terapeuta infantil e psicopedagoga Denise Dias, autora do livro "Tapa na Bunda", da Editora Matrix, o cuidado com relação ao repertório de músicas que as crianças ouvem deveria ser outro. "Uma coisa é cantar 'Atirei o Pau no Gato', que tem a ver com o nosso folclore. Outra é cantar e dançar o 'rebolation'", afirma. 
Atualmente, há duas correntes opostas sobre o que é adequado quando se trata de brincadeiras infantis, segundo a coordenadora do curso de pós-graduação em psicopedagogia da Fig-Unimesp (Faculdade Integrada de Guarulhos-Centro Universitário Metropolitano de São Paulo), psicóloga e psicopedagoga Sirlândia Reis de Oliveira Teixeira. "Há uma linha de pensamento que defende o 'brincar politicamente correto', com brinquedos certinhos, perfeitos, que farão da criança um cidadão de acordo com padrões estabelecidos pela sociedade", salienta a especialista, que completa. "Já a outra linha defende que se a criança tiver acesso somente àquilo considerado perfeito pela sociedade, não terá liberdade para ser ela mesma".
Para Sirlândia, o momento de ser politicamente correto é aquele em que é necessário preservar a criança para que ela não tenha acesso a falsas informações. "Mas não dá para colorir o mundo. O incorreto pode ser mostrado para que elas aprendam a diferença entre certo e errado", analisa. É exatamente neste ponto que essa “nova onda” se perde, o certo e o errado é questão de escolha, de discernimento próprio e cultural.

Em Gênesis (primeiro texto bíblico), por exemplo, Noé certa vez, após o dilúvio, se embriagou e ficou nú. Seu filho Cam presenciando a cena, correu para contar aos outros dois irmãos o acontecido. Estes prontamente acudiram o pai, cobrindo-o com suas vestes, sem sequer ousar ver “as vergonhas” do pai. Recobrindo sua sobriedade e sabendo dos fatos, Noé sem titubear, amaldiçoou toda a descendência de Cam (pai dos cananeus que deu origem a cidade de Canaã) por ele ter visto e contado aos irmãos seu pecado. Aos olhos de hoje simplesmente um absurdo a atitude desse pai. Cruel e inflexível, pois que mal fez Cam em ver o pai nú e bêbado e delata-lo aos seus irmãos sem ao menos ajudar o pai antes disso. Politicamente incorreta a atitude de Noé, não é mesmo? Ao contrário, politicamente correto hoje, é o pai nunca corrigir seu filho veementemente sem maiores explicações. Correto hoje é conversar e nunca bater. Não é verdade? E o quanto melhoramos como sociedade e contribuímos para a diminuição da violência sendo politicamente corretos? De fato uma coisa é certa, os extremos e os pólos em qualquer discussão ou ação são temerários e encontrar o ponto de equilíbrio desta nova onda se faz urgente.

A decadência da moral, não pode ser combatida com falsos moralismos radicalizantes, nem pela árdua defesa de minorias, quanto pela manutenção do “status quo” da maioria. Um debate amplo deve ser firmado, buscando os limites de cada visão do meu e do seu mundo “politicamente correto”, lembrando que as normativas preestabelecidas devem ser cumpridas antes de serem mudadas ou repactuadas. No caso da homofobia, por exemplo, existe uma constituição a ser cumprida. Uma união homo afetiva não poderá ser celebrada em um templo religioso, se os preceitos religiosos de determinada denominação abominam tal fato, ou seja, o direito de liberdade de culto, também é garantido pela constituição. Da mesma forma se um pastor fora do culto, espalhar pela mídia noções bíblicas deturpadas e preconceituosas, está no mínimo excedendo sua liberdade de expressão, ou ferindo criminalmente um determinado grupo de indivíduos.

Por fim há que se repensar esta nova onda ressignificando o que de fato é e não é politicamente correto, a começar pelo próprio termo, tempo e lugar. Principalmente se analisarmos que no Brasil a maioria dos políticos não são corretos e a moral brasileira e seu velho e conhecido “jeitinho brasileiro” é pouco ético.     

Alex Campos de Souza

Sociólogo - Mestre em Políticas Sociais  
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Vila Velha ou Nova Veneza



Falar de infraestrutura em Vila Velha é mexer em vespeiro... Todo atual prefeito joga culpa em administrações anteriores, mas resolver definitivamente o problema dos constantes alagamentos, que é bom, nada!!! 

Neste domingo lendo A Gazeta (pagina 6), fiquei com pena da infeliz ideia de transformar valão de esgoto em canal navegável para transporte público (numa extensão ridícula de 5 km)... Veja o que disse o atual secretário de Meio Ambiente da PMVV: "Esse é um sonho nosso (nosso quem cara pálida) e é totalmente possível, porque até alguns anos atrás, o canal era navegável (quando isso??? Em quase 30 anos morando em Vila Velha, nunca vi nem ouvi tal barbaridade. Será que pescavam algo também???). As pessoas precisam embarcar na nossa ideia e parar de jogar entulho e esgoto no canal (até ai tudo bem... mas eu não embarco nessa ideia de canal navegável...). Ele também não pode continuar sendo coberto" (Será??? Cade as estações de tratamento? Não seria melhor transformar este canal em piscinões de escoamento, aprofundando o canal em pontos estratégicos e fechando toda extensão restante, que só enfeiam a cidade, exalam mal cheiro e provocam inundações frente a fortes chuvas).

No próximo dia 10/04 avisa a reportagem, o atual prefeito Rodney Miranda vai acompanhar técnicos da prefeitura em uma descida de barco pelo canal nos cerca de 3,5 km não cobertos por galerias... Aposto, que após essa visita o prefeito terá no mínimo 3 constatações:
1 - Como é feio e fedido este canal;
2 - Que ideia é essa de M, transformar 5 km de canal de esgoto em canal navegável;
3 - Como estou mal assessorado...

Alex Campos de Souza
Sociólogo e Mestre e Políticas Sociais

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