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Que não seja em vão! Eu ainda estou pasmo com a passividade da sociedade brasileira. A onda crescente da violência parece não incomodar nossa "querida" classe política. O que mais falta acontecer? Policiais sendo assassinados em série; menino de 6 anos arrastado por 7 km (barbárie no último grau); ônibus sendo incendiado com pessoas vivas; criança de 1 ano sendo violentada dentro de igreja... horror, finais dos tempos, mais do que isso, negligência no último grau da palavra. Leis fracas, punições frouxas, educação às traças, enfim um caos total e absoluto que todos vêem, ou ouvem falar, mas não enxergam de fato, pois as pessoas estão míopes, quase cegas pelo consumismo doentil, pelo individualismo exacerbado, pelo culto a auto-imagem, pela indiferença a tudo aquilo que não diz respeito a nossa entediada, pseudo-feliz e medíocre vida pessoal. Cada vez mais nos afastamos do coletivo, perdemos definitivamente a noção de o que é bom para o coletivo, é bom para mim. A inversão de valores é total e absoluta, valemos o que temos, e o que somos, depende diretamente do que temos ou podemos valer um dia.
Que não seja em vão! Palavra de ordem para todos os familiares de vítimas dessa lógica perversa que vivemos nos últimos tempos. Protestos, passeatas, palavras de indignação, enfim, nada disso parece comover mais ninguém. Estamos frios ou somos frios? Quem nos ensinou essa frieza louca? O pós-modernismo que plastificou tudo, até mesmo nossos corações e mentes? Tornando tudo descartável até mesmo a vida humana que passa a ter pouco valor ,pela incapacidade que temos cada vez mais de ter empatia pelo próximo. Já dizia Veríssimo:"A empatia é um sentimento supervalorizado. Não é bonito, é terrível. Atrapalha a vida, impede a felicidade, às vezes até a digestão. Melhor ser o par de garras do Eliot, escapulindo pelo chão de mares silenciosos - a imagem definitiva do que não está nem aí para nada."
Que não seja em vão! Foi o que pensou o Frei Luiz Flávio Cappio, quando iniciou uma greve de fome a favor da revitalização do rio São Francisco para tentar impedir a implantação do projeto de transposição do Rio Francisco. Uma decisão de extrema empatia para com o meio ambiente e as famílias que sobrevivem exclusivamente do Rio. Este ato mobilizou o país e fez mexer, como poucas vezes vimos, a nossa eficiente classe política. Não é minha intenção fazer apologia a este ato extremo, mas parece que somente uma pressão legítima como esta, a qual o Frei Luiz foi capaz de fazer, é que poderá mudar a pauta de votação -- normalmente destravada quando se trata de assuntos pessoais (aumento dos próprios salários) -- de leis eficientes e duras de combate a violência e promoção da paz neste país.Que não seja em vão! É o que desejo, caso haja algum manifesto como este realizado pelo Frei, de preferência em frente ao Congresso Nacional, às vistas de toda imprensa nacional e internacional e realizada por familiares destas vítimas, pois com certeza são os únicos que verdadeiramente sentiram na pele toda essa dor, sendo assim nada mais legítimo. Que não seja em vão! Nossa busca pela felicidade, garantida em lei, porém muitas vezes interrompida de forma precoce e bárbara por monstros produzidos pela omissão brasileira, pátria mãe gentil, que não trata seus filhos como se realmente os fossem.
Alex Campos - Sociólogo, MSc
Ps. Este artigo foi escrito um pouco depois dessa tragédia nacional. Logo após, várias outras continuam acontecendo...
"Brasil mostra a sua cara! Qual o teu negócio? O nome do teu sócio?". Cazuza continuará contemporâneo até quando?